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Diversificar peixes consumidos otimiza nutrição e sustentabilidade marinha, revela estudo global

 

Peixes em balcão de mercado
Foto: EBC

Pesquisa da Nature Sustainability aponta que combinar espécies impulsiona valor nutricional e protege ecossistemas

Comer peixes menores e variados é a chave para alimentar bilhões com mais nutrientes e preservar a biodiversidade oceânica, segundo cientistas. Países tropicais lideram em diversidade.

 

 

Pesquisa global publicada na Nature Sustainability mostra que a combinação adequada de diferentes espécies marinhas maximiza benefícios nutricionais com menor consumo de biomassa

Uma nova pesquisa científica revela que diversificar o consumo de peixes pode ser a chave para enfrentar dois desafios globais simultâneos: alimentar bilhões de pessoas de forma mais nutritiva e preservar os ecossistemas marinhos. O estudo, publicado na revista Nature Sustainability, demonstra que a combinação estratégica de diferentes espécies de peixes pode fornecer até 60% mais nutrientes do que o consumo da mesma quantidade de uma única espécie, mesmo que ela seja altamente nutritiva.

A descoberta ganha relevância especial em um momento em que a pesca selvagem está estagnada há décadas, com muitas áreas pesqueiras esgotadas pela crescente demanda global por frutos do mar. “Esperamos que esta pesquisa destaque a importância da biodiversidade, não apenas por causa do dilema moral de que estamos causando uma extinção em massa na Terra, mas também porque a biodiversidade pode levar a melhores resultados para a sustentabilidade da pesca”, afirma Sebastian Heilpern, primeiro autor do estudo e bolsista de pós-doutorado na Faculdade de Medicina Veterinária.

Metodologia inovadora mapeia nutrição global

O trabalho envolveu um processo complexo de análise que começou com a identificação das espécies de peixes consumidas mundialmente. “Existem 30.000 espécies de peixes no planeta, e nós comemos apenas um subconjunto delas, então elaborar essa lista não foi trivial”, explica Heilpern.

Os pesquisadores cruzaram dados de conteúdo nutricional com informações biogeográficas de cada espécie, determinando quais peixes são encontrados em todos os países e territórios da Terra. Essas informações foram processadas por um modelo computacional de otimização que identificou as melhores combinações de espécies para maximizar a nutrição com o menor uso de biomassa marinha.

Peixes menores, maior sustentabilidade

Os resultados revelaram um padrão interessante: quando as pescarias são mais biodiversas, a dieta ideal tende a favorecer espécies menores, que se posicionam mais abaixo na cadeia alimentar. Essas espécies, como as sardinhas, apresentam características que lhes conferem maior resiliência às pressões humanas, incluindo superexploração e mudanças climáticas.

As espécies menores crescem mais rapidamente que as maiores e conseguem tolerar amplitudes térmicas mais amplas, tornando-as mais resistentes a choques climáticos. Além disso, podem ser facilmente substituídas por outras espécies similares com níveis nutricionais comparáveis, oferecendo aos consumidores múltiplas alternativas.

Geografia da biodiversidade marinha

O mapeamento global revelou que os países costeiros tropicais possuem as pescarias mais biodiversas. O Triângulo de Coral no Oceano Pacífico – região que se estende das Filipinas a Singapura e às Ilhas Salomão – junto com Austrália, Índia e Amazônia, lideram em diversidade de espécies consumíveis.

Os Estados Unidos, apesar de possuírem boa biodiversidade marinha, apresentam hábitos de consumo concentrados: apenas 10 espécies representam até 90% dos peixes consumidos pelos americanos, dependendo do ano analisado.

Estratégias para o futuro

Para promover a biodiversidade no consumo, os pesquisadores sugerem que os consumidores ampliem o consumo de espécies menores e mais variadas. Em nível institucional, recomendam a expansão de áreas marinhas protegidas, que têm demonstrado eficácia tanto na preservação da biodiversidade quanto no aumento da produtividade pesqueira.

A Amazônia serve como exemplo positivo, onde a pesca cogerida por especialistas e comunidades locais tem resultado em melhorias significativas na biodiversidade e nas capturas.

O estudo aponta para uma solução que pode beneficiar simultaneamente a segurança alimentar global e a conservação marinha, sugerindo que a diversificação do consumo de peixes não é apenas uma questão de sustentabilidade ambiental, mas também uma estratégia nutricional superior.

Referência:

Heilpern, S.A., Simon, F.W., Sethi, S.A. et al. Leveraging biodiversity to maximize nutrition and resilience of global fisheries. Nat Sustain (2025). https://doi.org/10.1038/s41893-025-01577-x

 
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
 

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