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Eventos climáticos extremos transformam céticos em defensores do clima

 

Em pauta: mudanças climáticas

Pesquisa revela que vivenciar ondas de calor e secas intensas eleva em 20 vezes a percepção de urgência climática global.

Enquanto um terço da população mundial ainda ignora o alerta científico, o contato direto com a crise climática inverte a tendência, especialmente em países com alto ceticismo. Entenda como a experiência pessoal se torna o fator decisivo para a mobilização ambiental.

Durante décadas, cientistas e ambientalistas alertaram sobre os perigos das mudanças climáticas, mas suas mensagens frequentemente encontravam resistência.

Dados recentes mostram que aproximadamente um terço da população mundial ainda não considera as alterações do clima uma emergência real. Em países desenvolvidos como Estados Unidos, Austrália e Alemanha, essa proporção chega próxima aos 50%.

Contudo, um estudo sugere que essa percepção está mudando drasticamente quando as pessoas experimentam na pele os efeitos das mudanças climáticas.

A pesquisa indica que viver eventos climáticos extremos têm um poder transformador sobre a opinião pública, convertendo céticos em defensores da urgência ambiental.

Calor extremo: o maior influenciador

Entre todos os fenômenos climáticos analisados, as ondas de calor extremo demonstraram o maior impacto na mudança de percepção.

Pessoas que vivenciaram temperaturas excepcionalmente altas têm 2,6 vezes mais probabilidade de considerar as mudanças climáticas uma emergência, comparadas àquelas que não aram por essa experiência.

A seca, embora também significativa, apresentou aproximadamente metade do impacto do calor extremo. Outros eventos como inundações, incêndios florestais e tempestades severas também influenciaram a opinião pública, mas em menor escala.

O efeito multiplicador dos eventos frequentes

O estudo revela um padrão ainda mais impressionante: quanto mais eventos climáticos extremos uma pessoa experimenta, maior sua convicção sobre a urgência das mudanças climáticas. Para cada tipo adicional de evento climático extremo vivenciado, a probabilidade de reconhecer uma emergência climática aumenta 7,5 vezes.

Aproximadamente 20% dos entrevistados relataram ter enfrentado três ou mais eventos climáticos extremos nos últimos seis meses. Esse grupo apresenta uma probabilidade mais de 20 vezes maior de considerar as mudanças climáticas uma emergência, comparado àqueles que não vivenciaram nenhum evento extremo.

Impacto desproporcional em países céticos

Os pesquisadores destacam que esse efeito transformador pode ser particularmente significativo em nações onde a percepção sobre mudanças climáticas ainda é baixa.

Países com maior resistência histórica ao reconhecimento da emergência climática podem experimentar mudanças mais dramáticas na opinião pública conforme eventos extremos se tornam mais frequentes e intensos.

Realidade palpável supera teoria abstrata

Os resultados sugerem que, para muitas pessoas, as mudanças climáticas deixaram de ser um conceito abstrato ou um problema futuro para se tornarem uma realidade presente e tangível.

A experiência direta com eventos climáticos extremos cria uma conexão emocional e prática que dados estatísticos e projeções científicas, por si só, não conseguiam estabelecer.

Especialistas interpretam essas descobertas como evidência de que a humanidade está entrando em uma nova fase da consciência climática, onde a experiência pessoal está superando décadas de ceticismo e negação.

Enquanto isso representa um despertar tardio para a urgência da crise climática, também oferece esperança de que a mobilização pública necessária para enfrentar o desafio finalmente está emergindo.

A questão que permanece é se essa mudança de percepção será rápida o suficiente para impulsionar as ações necessárias antes que os eventos climáticos extremos se tornem ainda mais frequentes e devastadores.

Referência:

Experience with extreme weather events increases willingness-to-pay for climate mitigation policy

Rachelle K. Gould, Trisha R. Shrum, Donna Ramirez Harrington, Virginia Iglesias

Global Environmental Change, Volume 85, March 2024, 102795

https://doi.org/10.1016/j.gloenvcha.2023.102795

 

Nota da Redação: sobre o mesmo tema, sugerimos que leia também:

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in EcoDebate, ISSN 2446-9394
 

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