Mobilidade elétrica no Brasil: Por que focar em ônibus e trens, não apenas carros?
Especialistas defendem que eletrificar o transporte público e de cargas é a chave para descarbonizar o setor e democratizar o o nas cidades brasileiras.
Enquanto o mundo avança na eletrificação de carros particulares, o Brasil tem uma oportunidade única de impulsionar a sustentabilidade e a economia priorizando trens, metrôs e ônibus elétricos. Descubra os benefícios e desafios dessa transformação.
Brasil tem oportunidade de liderar transição energética no setor, mas especialistas defendem abordagem focada em transporte público e de cargas
Por Henrique Cortez
Em meio à crescente onda global de eletrificação automotiva, especialistas em mobilidade urbana e sustentabilidade defendem que o Brasil precisa adotar uma estratégia diferenciada: priorizar a eletrificação do transporte público e de cargas, e não apenas incentivar a substituição da frota de automóveis particulares.
O setor de transportes representa um dos principais emissores de gases de efeito estufa no país, e sua efetiva descarbonização exige uma transformação estrutural profunda, centrada no transporte coletivo eletrificado de massa – trens, metrôs, VLTs, BRTs e, principalmente, ônibus – além da eletrificação de veículos de carga e expansão do sistema ferroviário.
Panorama global
Dados do relatório “Perspectivas globais de EV 2025”, da Agência Internacional de Energia (IEA), mostram que as vendas de carros elétricos ultraaram 17 milhões em todo o mundo em 2024, alcançando mais de 20% do mercado global.
A China continua liderando esse processo, respondendo por mais de 70% da produção mundial de veículos elétricos e com quase metade de suas vendas de automóveis já eletrificadas. Projeta-se que, em 2030, mais de 40% dos carros vendidos globalmente serão elétricos.
Transporte coletivo: o caminho mais eficiente
Embora os números de veículos particulares impressionem, é no transporte coletivo que a eletrificação pode ter impacto mais significativo, especialmente em países como o Brasil.
Segundo o mesmo relatório da IEA, as vendas de ônibus elétricos cresceram 30% globalmente em 2024, atingindo mais de 70 mil unidades. Na Europa, vários países já apresentam índices elevados de eletrificação: Dinamarca, Finlândia, Holanda e Noruega têm mais de 40% das novas aquisições de ônibus já eletrificadas.
Na América Latina, as vendas de ônibus elétricos saltaram de aproximadamente 600 em 2020 para mais de 2 mil em 2024, representando quase 40% das vendas fora da China e Europa.
Benefícios para o Brasil
Nos grandes centros urbanos brasileiros, a substituição de ônibus a diesel por modelos elétricos traria ganhos ambientais e de saúde pública consideráveis. Estudos indicam que a poluição atmosférica nas metrópoles brasileiras é responsável por milhares de mortes prematuras anualmente.
“Além da redução de emissões, há a questão do o. Para milhões de brasileiros, o transporte público é a única opção de mobilidade. Eletrificá-lo significa democratizar o o à cidade e seus serviços”, destaca Paulo Ribeiro, diretor da Associação Nacional de Transportes Públicos.
No setor de cargas, especialistas defendem que a eletrificação e a expansão do transporte ferroviário poderiam transformar a logística nacional, reduzindo custos e emissões em um país continental como o Brasil. As vendas de caminhões elétricos cresceram quase 80% globalmente em 2024, mas ainda representam apenas 2% do total.
Oportunidade econômica
A transição para a mobilidade elétrica coletiva também representa uma oportunidade econômica para o Brasil. O desenvolvimento de uma cadeia produtiva nacional voltada à fabricação de ônibus, trens e componentes elétricos poderia gerar empregos qualificados e impulsionar a inovação tecnológica em setores estratégicos.
Para os especialistas, as políticas públicas brasileiras precisam estabelecer metas ambiciosas para a eletrificação do transporte público urbano, investir em infraestrutura ferroviária e criar incentivos para que operadores de transporte coletivo e empresas logísticas façam a transição para veículos elétricos.
O desafio não é pequeno, mas o caminho para uma mobilidade verdadeiramente sustentável no Brasil a necessariamente pela priorização do transporte coletivo eletrificado, e não apenas pela substituição da frota particular.
Henrique Cortez, jornalista e ambientalista. Editor do EcoDebate.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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